"Uma mascara só encobre um rosto até que alguém aventure-se a arrancá-la."

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Texto antigo.

Encontrei um texto que escrevi há algum tempo, meio antigo... Não sei porque vou postá-lo mas, assim que o achei, li e ele mexeu comigo. Aí vai:

"E então, levantando os olhos, vi seis gordas carreiras bem na minha frente.
Tirei a carga da BIC, encostei o tubo na narina direita, como sempre, e cheirei carreira por carreira.
Elas foram feitas sobre a capa de um CD do Guns n' Roses. Eram de muito boa qualidade, bem purinhas!
Na hora senti a ardência no nariz e, aos poucos, minha boca começou a amortecer. Amo essa parte, quando o céu da boca amortece todo. Parece anestesia de dentista!
Comecei a ficar inquieta e impaciente. As coisas triviais me irritavam. Tudo é tão demorado! Qualquer coisa mais lenta que eu era imensamente estúpida! Precisava me mexer!
Em mais ou menos quarenta minutos comecei a sentir um imenso alívio! Meu corpo estava tão cansado mas, ao mesmo tempo, era tão... Prazeroso! Me sentia leve, aliviada e feliz. Não feliz a ponto de começar a rir do nada, mas... satisfeita! Comecei a temer pela má reação, que vem logo depois do alívio.
Depois de mais ou menos meia hora a fadiga começou a pesar. Tive vontade de deitar, mas não consegui dormir. Meu corpo estava MUITO cansado, mas minha mente me mandava continuar a me movimentar. É sempre um embate. E é irritante e levemente doloroso.
Então comecei a pensar sem parar: "Se tivesse mais, eu faria mais!". Felizmente, eu TINHA mais!
Corto o saquinho perto do nó, e despejo o conteúdo sobre a capa do CD. Com meu cartão do banco quebro as pedrinhas e, cuidadosamente, separo mais sete carreiras. Lambo o cartão e minha língua amortece.
Cheiro todas as carreiras, ainda com a narina direita (não gosto de usar as duas, porque depois quero ter pelo menos uma desentupida!). Junto o pó que sobrou na caixinha do cd e cheiro a minicarreira que consegui formar. Passo o dedo na caixa e lambo o restinho de pó que ficou grudado.
Dessa vez minha boca amortece mais rápido, e todo o efeito vem mais rápido também, mas quando acaba é devastador. Meu corpo está destruído e eu só quero me jogar na minha cama!
Me jogo, mas meu corpo dói. Quando finalmente consigo dormir, depois de uma meia hora, acordo o tempo todo, com a cabeça explodindo. Me sinto triste, mal. Mas isso já era esperado.
Consigo dormir para valer, e acordo no meio da tarde, me sentindo triste e lesada. Tomo algumas cervejas e, aos poucos, fico bem.
Hoje vou sair com os meus amigos, e eles não têm idéia do que fiz (denovo!). Era para pararmos juntos, mas eu desisti. Falava que era a última vez, mas já tive muitas dessas. Então decidi mergulhar nisso tudo de vez, novamente.
Às vezes eu queria ter uma vida normal, mas não consigo. Quando consegui, fui tão infeliz quanto nunca! Não por falta ou abstinência, pois fiquei três anos sem pó, mas por ver que a vida era algo monótono, e que eu a via por fora, apenas.
Chego à conclusão de que, quando não vivo dessa forma, não sou eu. Talvez, por ter começado muito nova, isso se tornou parte de mim, não sei.
O fato é, amo viver assim. É o jeito como sei viver. E QUERO viver assim, pelo menos por enquanto. Mas, ao mesmo tempo, não quero.
Demorei muito tempo para recuperar a confiança da minha família e, quando consegui, voltei à essa vida. É por isso que me sinto mal. Por estar traindo a confiança deles.
O melhor é que dessa vez eles não se envolvam. Nem tem porquê, não sou mais criança.
Quanto aos meus amigos, entendo a preocupação deles, mas eles precisam aceitar, sou assim.
Cheguei à essa conclusão enquanto conversava com meu irmão, meu confidente.
Eu: "Sei que o meu EU do ano passado era uma pessoa melhor. Mas eu era tão infeliz! Então, para ser esse alguém melhor preciso sacrificar minha felicidade? Escolher ser alguém "do bem" ou alguém feliz? Isso não é justo!"
Ele disse uma frase curta, mas que me fez pensar e escrever esse post.
"V., se você era infeliz, não era uma pessoa melhor."
Depois de vários anos, me conformo novamente. Vou morrer me drogando. Não quero mais solventes, eles me deixam deplorável, então voltei ao pó.
Não sei se me sinto mal com isso ou não. Só sei que tenho consciência disso.
De cocaína à benzina, de benzina à cocaína.
Essa é minha vida, queira eu ou não."
Obrigada.
V.M.

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