"Uma mascara só encobre um rosto até que alguém aventure-se a arrancá-la."

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sobre a minha última vez.

Ontem usei pó pela última vez em minha vida. Foi horrível.
Comprei à tarde e resolvi esperar um momento especial para usar. Não consegui.
Estava na faculdade, à noite, quando a fissura se tornou insuportável.
Trombei com uma amiga e contei para ela que estava indo para a minha última vez. Pedi para que ela ficasse do lado de fora do banheiro e ela aceitou.
Como era a minha última vez, queria fazer no baque, não cheirar, e levei meus "apetrechos".
Despejei o grama de pó sobre o papel alumínio e, como não fazia isso há muito tempo, separei apenas 1/8 de grama para baquear, e não o usual 1/4.
Coloquei na colher, espirrei a água. Misturei bem e joguei a bolinha de algodão em cima. O algodão logo absorveu toda a mistura. Enfiei a agulha dentro do algodão e puxei o líquido. Dei umas batidinhas na seringa, para liberar o ar. Estava pronto.
Sentei no chão e me dei conta de que não havia nada com que garrotear meu braço.
Visualisei a veia mais próxima e me piquei. Não consegui pegar a veia. Tentei mais algumas vezes, e estava sangrando bastante.
-"V., você está bem?" - Minha amiga não sabia que eu estava baqueando. Saberia naquele momento.
-"S., você pode me ajudar, por favor?" - Eu sabia que ela nunca concordaria com aquilo, mas mesmo assim chamei. Estava fissurada demais, queria sentir o pó em minhas veias o mais rápido possível, e não pensei na aversão que ela tinha por aquilo.
Ela entrou no banheiro, olhou para as minhas coisas e fez uma expresão horrorizada.
-"Assim eu não vou te ajudar! Estou indo embora!!" - S. começou a sair, mas eu implorei para que ela ficasse. Estava com medo de ter uma overdose, depois de tanto tempo sem baquear. Depois de muita insistência, convenci S. a ficar. Ela voltou para fora do banheiro.
Me piquei mais umas duas vezes e então consegui achar a veia. O sangue se misturou com o líquido transparente e ficou leitoso. Apertei o êmbolo devagar, contando dez segundos. Baqueei.
Senti aquela coisa revigorante, maravilhosa, crescendo dentro de mim. O baque é assim, instantâneo.
Chamei minha amiga para dentro do banheiro, toda animada.Já estava separando as carreiras.
-"Bom, agora que já fiz do jeito que queria, vou fazer o resto de um jeito mais convencional!"
-"V., eu vou embora. Até amanhã. Se cuida."
Juntei minhas coisas para ir ao outro banheiro e limpei meu braço, que estava sangrando muito.
S. me olhou nos olhos. Seu olhar era um misto de pena e decepção e esse olhar me chocou de uma forma indescritível. Me abraçou e foi embora.
Cheirei o resto do pó, me sentindo desgastada e deplorável. Comecei a me sentir pior ainda. Achei um amigo e contei tudo o que havia acontecido. Foi uma boa conversa.
Outro amigo percebeu que eu estava transtornada e entendeu tudo. Quis conversar. Também foi uma boa conversa.
Tentei muito ligar para outros amigos, mas o telefone não atendia. Voltei para casa arrasada, sempre me lembrando daquele olhar.
Fiquei uma hora sentada nas escadas, e nesse meio tempo fumei uns 12 cigarros.
Deitei, mas não conseguia dormir. Pensava sem parar. Passou-se mais uma hora e resolvi tomar um banho. O banho lavou minha alma e me despertou a vontade de ser alguém melhor.
Demorei mais umas duas horas para dormir, por causa do efeito do pó. Mas algo ressoava em minha cabeça:
"Amanhã serei alguém melhor. Lutarei para ser alguém melhor e SEI que serei melhor."
Acordei umas 10 horas da manhã e comecei a organizar minhas coisas.
Arrumei minha cama, que não via um lençol há três semanas. Tirei as roupas da mala, organizei meu guarda-roupas.
Estou realmente decidida a ser alguém melhor. Vou voltar a me dedicar aos estudos e a me alimentar direito. Nunca mais vou usar pó, NUNCA.
Pois eu sei que conseguirei. SEREI alguém melhor! (:

Um comentário:

  1. me assustei, achei que vc só estava fazendo em ocasioes especiais, pra apimentar uma diversão... não dê pra trás com sua decisão, é o que eu queria fazer também, pra ser sincero

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